Amanda Santana Silva, de 19 anos, está há um mês e meio de cama.
Em 2013, o Rio teve 316 acidentes de ônibus com vítimas.
Em 2013, o Rio teve 316 acidentes de ônibus com vítimas. Somente no mês de abril, foram 10 mortos e 70 feridos. Os dados são do Corpo de Bombeiros. No dia 2 abril, um coletivo da linha 328 (Bananal/Castelo), da empresa Paranapuã, caiu do Viaduto Brigadeiro Trompowski, na Avenida Brasil, após uma briga entre um passageiro e o motorista, deixando oito mortos e nove feridos. A passageira do veículo Amanda Santana Silva, de 19 anos, estava voltando do segundo dia do trote na faculdade. A aluna do curso de farmácia da UFRJ sequer chegou a ter a sua primeira aula. Ela teve que interromper os estudos porque teve três vértebras fraturadas e uma esmagada. Segundo o médico que a atendeu, a coluna da estudante teve um envelhecimento de 15 anos com o acidente. Um mês e meio após o acidente, ela ainda está de cama.
“Ainda tenho muita dificuldade em caminhar e ficar sentada. Até comecei a andar com ajuda da fisioterapia, mas ainda passo muito tempo na cama, não posso fazer nada por muito tempo. Estou bem chateada. Passei um ano fazendo cursinho preparatório para passar no vestibular e nem consegui começar a estudar. Estava feliz da vida, agora tenho que esperar pelo menos seis meses para iniciar as aulas”.
O advogado de Amanda, João Tancredo, entrou com uma ação contra a Paranapuã e contra o consórcio Internorte, no dia 7 de maio. Segundo ele, o fato de o passageiro Rodrigo dos Santos Freire ter discutido com o motorista André Luiz Silva Oliveira não isenta a empresa de indenizar a passageira.
“O motorista não podia ter discutido. Vamos pedir que a empresa arque com os gastos de tratamento médico de Amanda. Caso fique provado, através de uma perícia médica, que ela ficará incapacitada, vamos pedir um salário mínimo até o período que ela iniciaria um estágio, depois, este valor aumenta. Vamos pedir um valor indenizatório por danos morais, dano estético, além de apoio psicológico”, disse.
O delegado responsável pela investigação da queda do ônibus, José Pedro da Costa, enviou o inquérito à 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro indiciando Rodrigo dos Santos Freire e André Luiz Silva Oliveira na quarta-feira (2).
No dia 10 de abril, um ônibus da linha 685 (Méier-Irajá) perdeu o controle e colidiu com um posto de gasolina na rua Clarimundo de Melo, perto da igreja de São Jorge, em Quintino Bocaiúva, no Subúrbio. Quatro pessoas foram atropeladas. A empregada doméstica Tatiana Ferreira Lúcio, de 28 anos, atropelada com dois filhos, morreu no dia 14 e foi enterrada no dia 16.
Dois filhos da vítima — um de 3 anos e outro de 6 meses —, além de uma outra mulher, identificada como Ana Paula Pinto, chegaram a ser hospitalizados. De acordo com o delegado Geovan Omena, da 28ª DP (Campinho), o motorista Hilderaldo Nascimento, que dirigia o ônibus, inicialmente foi indiciado por lesão corporal grave e homicídio doloso, mas após análise da perícia, ele vai responder por lesão corporal culposa e homicídio culposo.
As investigações ainda estão em andamento, e o delegado aguarda o resultado do laudo de alcoolemia do motorista. Ainda segundo Omena, o laudo mostra que o ônibus estava a uma velocidade menor do que 40 Km/h.
Irmã de vítima questiona laudo
Um mês após a morte de Tatiana, uma das irmãs da vítima, Fabiana Ferreira questiona o laudo da perícia do tacógrafo do veículo.
“Estamos sabendo que o cara não vai ficar em cana. Como é que menos de 40 km/h mata uma pessoa? Não é possível matar ninguém nesta velocidade. Como ele conseguiu fazer aquilo com a minha irmã? A gente quer ele [o motorista] preso de qualquer maneira. Ele acabou com uma família. A gente não quer dinheiro, a gente só quer que a lei seja cumprida. Prestar serviço comunitário depois de ter matado alguém é um absurdo”.
Na época do acidente a Viação Rubanil informou, através de uma nota, que estava fazendo o acompanhamento e dando assistência às vítimas. No entanto, de acordo com Fabiana, a empresa não ajudou a família em nenhum momento. “Eles ofereceram R$ 2 mil para a gente calar a boca, mas a gente não aceitou”, disse a irmã da vítima.
Ações no trânsito
Para a relações públicas da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do Estado do Rio de Janeiro (Fetranspor), Suzy Balloussier, o motorista da linha 328, André Luiz Silva Oliveira, poderia ter parado o carro quando a discussão com Rodrigo dos Santos Freire foi iniciada. Mas ela alerta para a conduta do usuário do veículo. “Ele não teve uma postura de quem está utilizando um serviço público ao agredir o motorista. Isso reflete a falta de educação da sociedade. Por outro lado, aquele guard rail do viaduto era adequado apenas para pedestres, o que mostra a falha na estrutura viária. Se ele fosse adequado, o ônibus não teria despencado e o número de mortes poderia ter sido menor”.
Os motoristas de ônibus do Rio têm obrigatoriamente que passar por treinamento de 30 dias antes de começar a trabalhar em uma empresa. O curso é composto de aulas teóricas, seguidas de aulas na garagem da empresa para que os profissionais aprendam questões mecânicas do veículo. Depois, têm que percorrer todos os trajetos feitos pela empresa. Além disso, a resolução 168 do Contran diz que os motoristas devem passar por 40 horas de treinamento e por uma reciclagem anual de seis horas pelo Serviço Social do Transporte (Sest) e pelo Serviço Nacional de Aprendizagem do Transporte (Senat).
Suzy Balloussier reforça que o trânsito depende de três fatores: fiscalização, educação e engenharia viária. Segundo ela, a orientação da Organização Mundial de Saúde (OMS) para os programas de redução de acidentes é que atuem nestes três eixos. “Nós [Fetranspor] só podemos agir no treinamento”.
Quanto aos motoristas que operam em dupla função [dirigem e dão o troco ao passageiro], a relações públicas da Fetranspor classifica como algo comum. “A experiência internacional prova que não há problema. Na Alemanha, na Inglaterra e em diversos países do mundo não existe a figura do cobrador. Além disso, os profissionais são orientados a só dar partida após concluir a operação de embarque e de troco”.
“Vale lembrar que a Fetranspor está treinando só o profissional e não o cidadão integralmente. Será que no seu dia a dia este motorista é um bom pedestre, um bom ciclista, um bom passageiro? Se a pessoa não tiver uma conduta de cidadão, não adiante. O pedestre que atravessa fora da faixa certamente será um mau motorista”, conclui.
G1