Edison Silva
Deputados Neto Nunes e Lucílvio Girão, ambos do PMDB, foram aconselhados pelo núcleo político do Governo a não trocarem de partido. O primeiro aceitou a ponderação, mas o segundo decidiu se filiar ao Solidariedade. (Foto: José Leomar)
O quadro de filiações partidárias, de onde sairá os representantes dos cearenses na Assembleia Legislativa e Congresso Nacional, após a eleição de 2014, lamentavelmente, pela falta de interesse do eleitor esclarecido e com bons propósitos de mudar o modo de fazer política no Brasil, aliada à má reputação das agremiações partidárias, salvo raríssimas exceções, nos empurra para uma realidade nada animadora quanto à reclamada mudança qualitativa naqueles importantes espaços de discussão dos problemas estaduais e nacionais.

Com os nomes postos, mudança mesmo só com a troca entre os iguais. Os partidos, excluído o PSDB com o anúncio de ter filiado dezenas de médicos, não atraíram ou não buscaram filiar eleitores com condições, sobretudo morais e intelectuais, de melhorarem a atividade parlamentar, hoje tão descaracterizada, vilipendiada, execrada, enfim, desprezada pela grande maioria da população, não por contestação ao sistema democrático, mas pela postura inadequada de muitos dos atuais detentores de mandatos.

Inquietação

Os "donos" dos partidos procuraram, como acontece às vésperas de eleição, políticos ou herdeiros destes, com potencial eleitoral, forjado por meios discutíveis, mas, só e tão somente por oferecerem perspectiva de conquista de voto.

O elemento capaz de bem exercitar a política, fortalecer a democracia e trabalhar para responder à inquietação da sociedade com a ineficiência da administração pública é de somenos importância para os projetos pessoais de dirigentes partidários, antes de tudo preocupados com os benefícios pessoais ou do pequeno grupo dominante das siglas.

Em qualquer análise superficial das filiações feitas até a data limite, último sábado, estabelecido pela legislação eleitoral para os pretensos candidatos de 2014, constatar-se-á não ter sido outro o objetivo dos partidos, senão o de angariar votos, ao ponto de até rixas antigas e recentes, serem relegadas pelo interesse eleitoreiro imediato juntando os inimigos em um mesmo partido.

Com certeza, os cearenses continuarão órfãos de uma boa representação política nos próximos quatro anos a começar em janeiro de 2015, quando assumirão os mandatos os eleitos em outubro de 2014. E como a orfandade não produz apenas tristeza, a população também experimentará os prejuízos políticos e administrativos causados pela ineficiência e a omissão do Legislativo, responsável pelas cobranças da obrigação de fazer do Executivo.

Explícito

Nunca, o fisiologismo, como descrito no Dicionário Houaiss da língua portuguesa, que é a "conduta ou prática de certos representantes e servidores públicos que visa à satisfação de interesses ou vantagens pessoais ou partidárias, em detrimento do bem comum", foi tão explícito na política cearense, retratando um momento degradante para a democracia ao atestar a falta de compromissos desses políticos com os partidos, os eleitores e de respeito a si.

A corrida em busca do abrigo do Governo foi de certa forma repugnante ao ponto de ter havido refugo. E não foi apenas o caso do vereador Leonelzinho Alencar, rejeitado nos dois novos partidos onde estão aliados do Governo (PROS e Solidariedade).

Não há mais tempo para se alterar essa caótica situação. Mas dela será possível se extrair uma representação menos ruim. Redimindo-se da culpa da omissão, muitos dos que deveriam estar participando ativamente do processo político-partidário, para evitar ampliar o fosso entre o Poder Público e a sociedade, poderá ir às ruas em defesa de candidatos sem os vícios, defeitos e costumes diversos daqueles recomendados para o bom exercício do mandato.

Prefeitos e vereadores

Eles existem nas listas homologadas pela Justiça Eleitoral. Nunca são eleitos. As estruturas patriarcais dos partidos, embora homologuem os seus nomes, até para completarem as listas de candidatos, não têm interesse que eles ascendam ao Poder, posto constituírem-se em ameaça à mudança do sistema de os pseudosdirigentes ou donos de partidos de negociação de legenda, voto e apoios.

Os dois novos partidos registrados pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Solidariedade e PROS (Partido Republicano da Ordem Social), só filiaram no Ceará, na última semana, políticos interessados na eleição estadual: candidatos a governador, senador, deputados federais e estaduais. A partir desta semana, no entanto, eles começam a filiar prefeitos e vereadores.

Essas duas siglas têm vínculo com o Governo do Estado e, portanto, vão receber as filiações dos políticos do Interior ligados a agremiações como o PSDB, PMDB e quase todos os que foram eleitos, em 2012, pela legenda do PRB, na época a segunda alternativa do Governo, suplantada, depois, pelo PSD. A propósito, quando ficar concluído o processo de troca de partidos no Ceará, até o fim deste mês, o balanço registrará que PSDB e PRB foram as duas siglas mais atingidas.

Os tucanos desapareceram da Assembleia Legislativa. A primeira grande baixa sofrida pelo partido aconteceu com a nascimento do PSD, para onde desgarrou mais da metade da bancada eleita em 2010. Agora foi o restante: Fernando Hugo, João Jaime e Téo Menezes, embora este já não mais, de fato, fizesse parte da sigla, por também ter sofrido até ameaças de expulsão.

O PRB perdeu um deputado e dois suplentes, e deverá ficar sem o comando da quase totalidade das prefeituras conquistadas no pleito passado com a ajuda do esquema oficial.

Fonte: Diário do Nordeste
 
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