Para
impedir a conotação de ''maldição'' que o termo trazia na Bíblia,
Francisco se comprometeu a utilizar o termo "mal de hansen" no lugar de
''lepra"
Jornalista Camila Fernandes, em encontro com o papa Francisco. Ela é
voluntária há cinco anos e foi influenciada pela mãe, a artista Karla
Karenina
Seis
brasileiros que integram o Movimento de Reintegração das Pessoas
Atingidas pela Hanseníase (Morhan) foram recebidos pelo Papa Francisco,
no Vaticano, na manhã desta quarta-feira, 10. A comissão, composta por
três cearenses, debateu sobre os desafios da erradicação da doença no
Brasil e, principalmente, da necessidade de pôr fim ao preconceito com
os pacientes.
A hanseníase é uma doença infecciosa caracterizada pela perda da
sensibilidade ao calor, frio, dor e tato, além da diminuição da força
muscular. O que poucas pessoas sabem, no entanto, é que com o tratamento
adequado, a hanseníase deixa de ser transmissível e os pacientes podem
ter um convívio normal com a sociedade. "Pode ser curada em poucos dias,
o tratamento é oferecido pelo SUS, mas ainda existe muito preconceito.
Tem muita gente que fala fulano teve lepra, um termo muito pejorativo",
explicou a cearense Camila Fernandes, que integra a comissão e conheceu o
papa.
Para impedir a
conotação de ''maldição'' que o termo trazia na Bíblia, Francisco se
comprometeu a utilizar o termo "mal de hansen" no lugar de ''lepra".
“Essa é uma vitória muito grande para nós, já havíamos tentado encontros
com outros Papas, mas o Francisco foi o primeiro a receber o movimento e
as pessoas atingidas pela doença”, comemora a artista Karla Karenina,
mãe de Camila e também voluntária no Morhan.
Segundo Karla, a
mudança do nome é uma forma de evitar um preconceito milenar, que
povoava a crença espiritual dos católicos. "Tivemos muitos sucesso e
fomos super bem recebidos pela equipe do Vaticano, foi um momento
especial. O normal é que ele fale com um ou dois representantes, mas
Francisco falou com todos, entregou um terço, ele é uma figura
acessível, leve. Saímos muitos felizes com o que conseguimos", emendou
Camila.
Na ocasião, o
grupo também entregou ao papa Francisco um dossiê sobre a hanseníase na
América Latina, com dados do Brasil. Em 2014, foram identificados 24.612
casos novos da doença em todo o País, segundo o Ministério da Saúde. O
Brasil ainda é o único país do mundo que não está em ''eliminação da
doença'', o que significa registrar até dez casos da doença por cada 100
mil habitantes. Aqui, o índice é de 12,14 novos casos da doença por
cada 100 mil habitantes, aponta a Organização Mundial da Saúde (OMS).
FOTO: ARQUIVO PESSOAL
Comissão da Morhan
Envolvimento
O Morhan é uma entidade sem fins lucrativos, que desenvolve, desde 1981,
atividades de conscientização e construção de políticas públicas
eficazes para a população. A luta pelos direitos das pessoas atingidas
pela doença sensibilizou Karla quando ela participava, há dez anos, de
um show da entidade em Sobral.
“Todos me perguntam se tenho alguém da família com hanseníase, não
tenho, mas fui convidada para ser uma artista voluntária, topei de cara!
Saber que o Brasil possui tanto casos me espantou, eu quis trabalhar
por essa causa", contou. O interesse conquistou a filha dela, a
voluntária Camila Fernandes, que há cinco anos é jornalista do Morhan.
O nome de Karla ganhou projeção nacional com a personagem Meirinha,
quando participou da célebre Escolinha do Professor Raimundo, programa
de Chico Anysio na TV Globo. A personagem também passou a ajudá-la no
voluntariado. “Tanto como a Karla como a Merinha querem trabalhar pelas
melhorias dos pacientes atingidos pela Haseníase. Eu uso a Meitirinha
para passar isso de uma formar divertida, e adoro fazer!’’, completa.
Incentivo
A comissão também pediu a proteção das colônias de pacientes com
hanseníase, que no passado, eram isolados da sociedade. “As antigas
colônias foram extintas, mas agora a ideia é lutar pela garantia dos
direitos das pessoas que têm ou já tiveram hanseníase. Os abusos ainda
são uma realidade no nosso País”, explica o coordenador nacional do
Morhan, Artur Custódio.
O Ceará tem
duas colônias, localizadas em Redenção e Maracanaú, conforme Custódio. O
assunto será discutido, novamente, em uma reunião da Organização das
Nações Unidas (ONU) marcada para esta quinta-feira, 18. A Possibilidade
de o Vaticano fazer um Seminário Internacional sobre a hanseníase também
foi levantada pela organização japonesa.
Milhares de
brasileiros que nasciam com a doença ainda eram entregues à adoção, e a
Morhan defende uma indenização para eles. “Precisamos garantir a
indenização das pessoas que foram vítimas do maior episódio de alienação
parental da História do Brasil. Um anteprojeto de lei para isso está em
estudo na secretaria da presidência”, explicou o coordenador.
Fonte: O Povo
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