Uma semana depois de ser estuprada por 33 bandidos, a jovem X, de 16 anos, sofreu uma nova violência. Uma conta no Twitter foi criada para, de uma forma enviesada, justificar o crime. Foram postadas fotos de uma menina segurando armas. Independentemente de as imagens serem falsas ou verdadeiras, a estratégia de quem criou a conta faz parte da cultura do estupro.
O objetivo é fazer o público acreditar que a menina andava com bandidos, e que, por isso mesmo, correu o risco de ser estuprada. Ou seja, a culpa não seria dos bandidos, mas da vítima. O mais indignante é que a lógica da cultura do estupro encontrou eco em alguns comentários. Em quatro horas, a conta já possui mais de 280 seguidores.
Juliana de Faria, coordenadora da ONG Think Olga, afirma que esse comportamento de tentar culpar a vítima é normal na cultura do estupro, termo que não se refere apenas ao crime do estupro, mas também todos os caminhos levam a essa violência ou a legitimam:
— É como se o estupro fosse culpa da vítima, nunca do criminoso. A mulher ainda é vista como um ser doméstico, que precisa ficar em casa cuidando dos filhos e lavando a roupa. A mulher que não tem apenas esses comportamentos acaba sendo culpabilizada pela sociedade. As pessoas tentam traçar características que fariam ela merecer ser vítima de violência.
Ela lembra que isso não acontece apenas em casos de estupro, mas também de assédios sofridos no cotidiano pelas mulheres:
— Quando uma mulher recebe cantada na rua, as pessoas acham que ela pediu isso, andando com roupas curtas ou batom vermelho.
Feminista, a produtora cultural Jeanne Yépez diz que a divulgação das imagens que supostamente seriam da jovem, infelizmente, não a surpreende:
— Esse é um caso clássico: um estupro aconteceu, e a sociedade tenta encontrar motivos na menina para que ela tenha vivenciado a violência. Essa caso da adolescente nos choca muito, mas não é isolado: precisamos conversar sobre o estupro.
De acordo com ela, o receio de ser estuprada afeta todas as mulheres:
— É um medo que passa pela mente de todas as mulheres que eu já conheci na vida. Acho que é um medo de todas as mulheres mesmo. É um medo que os homens não conhecem.
*** Extra - O Globo
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