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Já são pelo menos 86 ataques confirmados em todo o Estado. A onda de violência, iniciada na última quarta-feira (03), em Fortaleza, por facções criminosas, se disseminou pelo Ceará e trouxe impactos aos cearenses.

Chegou ao quarto dia consecutivo a onda de ataques no Ceará. As ofensivas iniciadas na noite da última quarta-feira (24) por facções criminosas, em Fortaleza, se espalharam em teia pelo Interior do Estado. Até o fechamento desta matéria, pelo menos 17 cidades cearenses haviam sofrido algum tipo de ataque. Já são mais de 87 ações contabilizadas em todo o Ceará. Numa tentativa de frear a desordem, o Governo do Estado solicitou reforço federal.

Apesar do efetivo policial reforçado, as ações criminosas prosseguem. Neste sábado, o pátio particular de veículos terceirizado pela Polícia Rodoviária Federal (PRF), na CE-085, em Caucaia, foi atacado. Duas pessoas teriam lançado coquetel Molotov contra o depósito. Cerca de 30 veículos foram atingidos.

Os ataques a concessionárias, prédios públicos, estacionamento de shopping, passarela de pedestre e agência bancária, além de diversas investidas contra veículos, mudaram a rotina da Capital e Região Metropolitana.

O Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Ceará (Sindiônibus) reduziu a frota de transporte coletivo e alterou as rotas como parte do plano de contingência para garantir a segurança dos passageiros. Ontem, o serviço ficou paralisado durante duas horas, entre as 13h30 e as 15h30. A pausa se fez necessária para troca de plantão dos policiais que estão garantindo a segurança do transporte público.

Impacto

No Centro da cidade, a movimentação foi aquém do normal. Durante o início da manhã de ontem, o que se percebia era um número bastante reduzido de pessoas circulando pelo local, apesar de a maioria das lojas, no início do dia, estarem abertas e funcionando normalmente. A Praça do Ferreira, geralmente bastante agitada, igualmente registrou mobilidade consideravelmente inferior à esperada.

Mesmo com o baixíssimo fluxo, comerciantes autônomos e vendedores ambulantes também não desistiram de vender suas mercadorias. Iana Lopes, de 23 anos, manteve aberta sua banca de pães de queijo na Rua Liberato Barroso. No entanto, acumulou prejuízo. "Até às 10h, normalmente vendo de 600 a 700 pães; hoje, não consegui vender nem 200. As vendas caíram muito desde o começo dos ataques", lamentou.

Próximo dali, Paulo Roberto Moreira, 49, também sentiu o impacto da redução das vendas das bolsas e mochilas que comercializa há três décadas, no mesmo ponto. Segundo ele, a decisão foi por garantir a renda do fim de semana, mesmo com a previsão de que o número de pessoas circulando pelo Centro diminuiria, devido à onda de ataques. "O jeito é se arriscar. Mas não tem praticamente ninguém por aqui. Todo dia fico até 19h, mas hoje vou embora mais cedo", adianta.

Terminais vazios

Nos terminais da cidade, apesar da frota reduzida, muitos ônibus saíam praticamente vazios. No do Papicu, o movimento de pessoas registrado no início da manhã deste sábado foi calmo. Quase não havia passageiros nas paradas e, os que embarcavam, contavam com a presença de dois a três policiais por ônibus. O número de PMs no lugar, inclusive, era grande, espalhados por vários ambientes. De acordo com informações de agentes da Empresa de Transporte Urbano de Fortaleza (Etufor) lá presentes, dez linhas partindo do terminal estavam circulando pela manhã.

Contudo, passageiros da linha 092 (Antônio Bezerra/Papicu/Praia de Iracema) reclamavam da extensa demora na chegada do ônibus. Muitos deles chegaram antes das 6h e, até por volta das 9h30, ainda não haviam conseguido embarcar devido à falta de veículos na frota.

O auxiliar de almoxarifado Fabrício Monteiro, que mora no bairro Jardim das Oliveiras e trabalha na orla do Mucuripe, se enquadra nesse perfil. Ele disse que, desde às 15h da última sexta-feira (4), anda a pé nas ruas da cidade por não conseguir acesso a diversas linhas que saem do Papicu. "Não consegui pegar nenhum ônibus das linhas 021, 815, 825, 092 e 051. Todas as mídias da Etufor disseram que tinha transporte, que estava normal ou tentando regularizar, mas não está aparecendo ônibus", situa. Dez linhas também estavam circulando no terminal da Parangaba. O tempo de espera por alguns ônibus era de duas horas. Em contrapartida, os passageiros afirmaram se sentirem mais seguros. "A presença dos policiais dentro dos ônibus ajuda, consigo ir pra casa mais tranquila", pontuou Ayla Bastos, 23.

Já no terminal do Conjunto do Ceará, a oferta de linhas foi ainda menor nesse sábado. Apenas três estavam circulando. O local passou a manhã praticamente vazio, mesmo com a presença policial. Dos 1.810 ônibus que circulam normalmente por Fortaleza, apenas 108 estavam rodando neste sábado.

Ataques no Interior

Se na Capital os ataques foram heterogêneos, no Interior do Estado as ofensivas estiveram mais concentradas. No Centro-Sul do Estado, os ataques chegaram ao segundo dia. Em Iguatu, um carro da empresa Endicon, a serviço da empresa concessionária de energia elétrica Enel foi incendiado.

Durante a madrugada, criminosos tentaram incendiar o posto de combustível Icavel, no bairro Areias II. Três coqueteis molotov foram arremessados por cinco homens. O bando também efetuou três disparos. Ninguém ficou ferido.

A região Norte voltou a ser alvo de incêndios, após a queima de um ônibus escolar em Tianguá, na última quinta-feira (4). Dessa vez, as ações ocorreram em Massapê, Varjota, Sobral, Morrinhos, na Vila de Jericoacoara. Em Massapê, seis vans foram destruídas, na madrugada de ontem (5). O galpão onde os veículos estavam também foi destruído. Em Sobral, os ataques foram quase simultâneos.

(DN)
Foto Natinho Rodrigues

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