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Lula está de volta ao Planalto. No ministério da Casa Civil, despachará do quarto andar do palácio, acima do gabinete presidencial de Dilma Rousseff, que fica no terceiro. A julgar pelo que foi noticiado sobre as conversas entre Dilma e Lula nos últimos dias, o ex-presidente irá se sobrepor à presidente não apenas na geografia palaciana, mas também nas duas áreas mais importantes da administração federal: a articulação política e a política econômica.
Na articulação política, seu desafio é imenso. Ouvem-se aos fundos os acordes da série Missão Impossível: trazer o PMDB, ou pelo menos parte dele, de volta para o governo. Desde o sábado passado é dado como certo o desembarque do PMDB, ou pelo menos de parte significativa dele, do governo. Com isso, o impeachment no Congresso passou a ameaçar fortemente Dilma. No governo, Lula tentará mudar essa situação, usando seu talento como articulador político. Não vai ser fácil. Segundo ÉPOCA mostrou em sua edição impressa desta semana, o PMDB teme o fator tóxico do PT, partido mais identificado com as investigações no petrolão. Isso poderia atrapalhar o PMDB nas eleições municipais deste ano -- o PMDB é o partido que mais tem prefeituras.
Na economia, o desafio de Lula é acabar com o ciclo de más notícias. Especialmente a inflação e o desemprego crescentes, que atingem especialmente os mais pobres e são consequência direta da nova matriz econômica do governo Dilma. O problema é que, se seguir as diretrizes do PT, a situação pode piorar em vez de melhorar. Um documento publicado no site do partido, "O Futuro Está na Retomada das Mudanças", acena com receitas velhas e que já se provaram fracassadas. Os três pilares são baixar os juros na marra (como Dilma já tentou e deu errado), reforma tributária no estilo argentino (que já deu errado no governo Cristina Kirchner) e aumento de gastos públicos fazendo o endividamento explodir (que destruiu a confiança de quem gera empregos, sendo a principal razão dos problemas que vivemos hoje).
Não é certo, claro, que Lula vá seguir inteiramente as diretrizes do PT. A tentação populista, no entanto, está posta. Mesmo que prevaleça a sensatez, como ocorreu no primeiro governo de Lula no caso da Carta ao Povo Brasileiro, seria uma surpresa se Lula abraçasse a agenda de reformas que o Brasil precisa. A Reforma Previdenciária, por exemplo, que Dilma defendeu no final do ano passado -- e que passaria aos que geram empregos a mensagem de que o governo pensa no longo prazo -- encontra muitas resistências dentro do PT. É duvidoso que Lula abrace a causa contra as bases de seu partido.
Ao aceitar o ministério, Lula se expõe a um desgaste. É inevitável pensar que ele entrou no governo em busca de um foro privilegiado para si e para sua família, ao abrigo das investigações da força-tarefa da Lava Jato e das decisões do juiz Sérgio Moro. O desafio de trazer de volta o PMDB, como já foi dito, soa a missão impossível. Para os brasileiros, no entanto, o mais importante são os efeitos na economia. Pode-se dizer que, na maior parte de seu mandato, Dilma governou contra os pobres -- como faz todo presidente que deixa a economia sair dos trilhos, criando os efeitos de inflação e desemprego que atingem principalmente os menos favorecidos. Se ceder à tentação populista e seguir as mesmas diretrizes (conforme o que está escrito no site do PT) o governo dará aos brasileiros mais da mesma receita fracassada.
*** Que, em vez disso, prevaleça a sensatez.
*** Revista Época

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